terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mais causo da Antônia



Antônia, um dia, veio me perguntar o que era esse tal de "el ninho".

Eu já havia apresentado a ela o globo terrestre -- eu tinha um pequeno e barato, mas que serviu perfeitamente aos seus e aos meus propósitos --, de modo que só precisei fazer um rápido recuerdo.

Mostrei a ela o Rio Amazonas, que ela conhecia da TV e, portanto, sabia que era um rio enooorme e largo como ela jamais vira na vida. Depois mostrei de novo o Oceano Pacífico e tracei sobre ele, com meu dedo, o caminho do "rio dentro do mar", que, numa certa época do ano, fica quente lá do outro lado do mundo e traz esse calor pra cá, assim. E que esse calor provoca mais chuva ali, mais seca acolá, conforme se vê na televisão.


Vi nos olhos dela que ela havia compreendido perfeitamente. Bem como o sorrizinho satisfeito que ficava estampado na cara alegre, toda vez que Antônia aprendia alguma coisa diferente.
Mas, de repente, seu rosto ficou sombrio.


-- Quê que foi, Antônia?

-- ... é que ocê ensina p'a eu um tanto de coisa... mas eu num dô conta de ensiná ocê...

-- Ensinar o que? -- logo ela que já tinha me ensinado muito sobre plantas e ervas daninhas e bichos e pragas e várias outras coisas fundamentais pra quem pretende "criar" uns canteiros, mas não sabe nada do assunto!

-- Cumé que eu sei quando vai inverrrná.

E, de fato, eu perguntei zilhões de vezes a ela, mas ela nunca me esclareceu como era possível, num dia cheio de sol e céu azul e calor, esta criatura olhar pra cima, pros morros, pras matas e, mais parecida com uma índia-pajé do que nunca, declinar com aquele sotaque cheio de erres muito líquidos e entonações arrastadas:

-- Vai inverrrná...

E dali a algumas horas se instaurava o inverno mais gelado no meio do verão!

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