sábado, 31 de julho de 2010

Pequenos Monstros



Neste fim de semana assisti a um DVD da BBC (vixe, quanta sigla!) chamado "Pequenos Monstros", que estava mais preocupado em exibir as excelências da tecnologia moderna, com as microcâmeras e as fibras óticas, do que em explicar mais detalhadamente o comportamento dos astros principais, ou seja, dos simpáticos representantes dos reinos insetal, aranhal e vermal. Mas que, ainda assim, foi bem legal!

Dentre todos os pequenos e fofos monstrinhos, o que mais me inpressionou foi uma espécie de aranha que vive sei lá onde (esqueci), em que o aranho é quem faz o ninho. E no maior capricho, com a precisão de um engenheiro, com o esmero e a arte de um arquiteto e com a boiolagem de um decorador.
Os aranhos ficam lá fazendo os ninhos na terra e as aranhas vão passeando, examinando um aqui, outro ali, até escolherem o mais bacana. Aprovado o ninho, automaticamente aprova-se o aranho construtor. Então a aranha chega juntinho do eleito e diz pra ele em aranhês que tá a fim. Daí o aranho pega e transa com ela, o que acontece mais rapidamente do que o tempo que eu levei pra dizer "o aranho transa com ela".
E vejam vocês, lerdos leitores, vós que levais de sete a nove meses pra preparar um bebezinho, em 20 minutinhos a aranha já põe um ovinho e vai-se embora toda serelepe. O aranho, então, limpa e enterra cuidadosamente o ovinho em seu ninho, e fica lá esperando pela próxima. Bem, a julgar pela quantidade de ovinhos enterrados no ninho, é um entra-e-sai de aranhas em alta rotatividade, maior embalo!
Mas às vezes acontece de chegar uma aranha que examina toda exigente o apê do rapaz, aprova, concede -- o aranho vai lá e manda ver! -- e aí os minutos vão passando e o aranho vai ficando cabreiro, nervoso. Depois de esgotado o tempo regulamentar e vendo que não sai nenhum ovinho daquela pilantra estéril, o bicho manda ela ir embora que ele tem mais o que fazer. Mas a bicha, vingativa, antes de sair vai lá e rouba alguns dos ovinhos alheios e os come sem nenhuma cerimônia. Então o aranho parte pras vias de fato e pra ignorância e tasca umas mordidonas nos cambitos da ladrona e põe ela pra correr.
Semanas depois, os ovinhos eclodem e nascem muitas aranhinhas e aranhinhos, que ficam por ali com o orgulhoso papai, que tem só uns 2 ou 3 dias pra ensinar todos os fatos da vida pra filharada antes que ela saia pro mundo.
O que o filme não explica é: o que acontece depois? O aranho cai na balada? Abandona aquele ninho e vai passear por aí, conhecer outras paisagens, outras espécies, fazer um intercâmbio cultural? Quanto tempo leva entre um ciclo reprodutivo aranhal e outro? Será que no próximo, o aranho, a quem a gente já se afeiçoou tanto, vai fazer o mesmo sucesso que fez neste?

* * *

Outro ser que me impressionou foi a lesma. Quando chega o ciclo da furunfação, ela chega por trás da outra e dá-lhe uma beliscada no bumbum. Esta é a senha pra que as duas subam por uma árvore, escorreguem por sob um galho, soltem um fio de baba gosmenta no qual se penduram e começam a se enroscar uma na outra, tal qual uma cadeia de DNA. E, sendo hermafroditas, ambas têm piu-piu e periquita. Só que, em vez de fazerem as coisas como a gente pensa que deveriam fazer, depois de estarem totalmente enroscadas, elas começam a enroscar também seus piu-pius um no outro até fazerem uma bola de esperma e só então fecundam-se uma à outra -- ou um ao outro, como queiram --; mas o mais incrível é que levam uma hora inteira nesta enroscação desenfreada!
Conheço alguns gays que adorariam fazer o que elas fazem! Vão todos pedir pra serem lesmas na próxima encadernação!

* * *

E a centopéia, que leva nada menos do que duas horas no rala e enrosca!
Porém, antes que vocês as invejem, deixem-me esclarecer que, antes de partir pros finalmentes, o centopéio tem que usar toda a força e persuasão de suas cem perninhas pra desenrolar a centopéia, que fica lá fazendo o maior doce e não dá mole, não! Depois que consegue a muito custo desenrolar a moça, duas das perninhas dianteiras do centopéio transformam-se em piu-pius e ele vai lá e penetra num orifício que fica logo abaixo da cabeça da pernuda.
Agora, não sei se devido ao fato de ter poucas centopéias e sobrarem centopéios, ou se porque a centopéia protagonista do filme era mais jeitosinha e gostosona do que as outras, o fato é que, enquanto o casal tá lá no maior love, chega um outro centopéio e, sem a menor cerimônia, vai pisando com a sua centena de perninhas sobre o casal e tenta desesperadamente separá-lo pra tomar o lugar do outro.
No caso, o primeiro centopéio venceu a parada e botou o intrometido pra correr. Ufa!...

* * *

Finalmente, impressionou-me muito verificar que existe mau-caratismo também nos reinos insetal, vermal e aranhal -- é centopéio querendo empatar a transa do outro, é aranha roubando ovinho do aranho, é outra aranha roubando o mosquito que pousou na teia alheia, e por aí vai...

Mas, não importa quanta ventura possa haver na vida sexual-amorosa da bicharada, porque acho bom mesmo é pertencer ao reino hominal-mulheral. Por mais que tenhamos desvantagens como pagar impostos, pagar micos, aturar políticos corruptos, protozoários no trânsito, trogloditas no dia-a-dia etc, no final das contas somos bem mais bonitinhos do que aqueles pequenos e nojentos monstrinhos...


(Este texto foi escrito no segundo semestre de 2005)


sexta-feira, 23 de julho de 2010

"Brasília - Capital da Esperança"




Há um hino a Brasília cujo título é o verso final da letra -- e que a maioria dos brasilienses pensa que é o hino oficial, de tanto ouvi-lo por aqui -- "Brasília - Capital da Esperança".
Ao ouvi-lo hoje, me pus a refletir sobre o seu significado... e cheguei a algumas conclusões.

Sim, Brasília é de fato a Capital da ESPERANÇA.

- Muitos brasileiros ESPERAM que Brasília se exploda e desapareça da face da terra, como se a cidade em si fosse responsável pela corrupção desenfreada e os desmandos de alguns políticos e governantes deslumbrados.

- Vários brasileiros ESPERAM pegar carona nas mamatas oficiais e oficiosas que emanam daqui, como a bolsa esmola (que dá o peixe mas não ensina a pescar), o salário presidiário (sem que o preso trabalhe dentro da cadeia), as verbas pro MST (pra custear invasões de fazendas produtivas), só pra exemplificar.

- Outros tantos ESPERAM ser eleitos pra poderem vir pra cá, por dois ou três dias na semana, exceto nas longas férias e feriados, ganhando salários indecentemente altos, várias ajudas de custo, até décimo sétimo salário, passagens aéreas gratuitas, mordomias mil, imunidade parlamentar, empregos fantasma pra familiares e cupinchas, além de meios perfeitamente propícios pra se fazer todo tipo de falcatrua e negociata.

- E mais outros tantos brasileiros, em especial os brasilienses de fato e de coração, como eu, ESPERAM ansiosamente que o resto do Brasil pare de mandar esses pulhas pra cá, mandando em seu lugar políticos verdadeiramente honestos e bem intencionados ou então que, pelo menos, anule seu voto caso não haja candidatos confiáveis em quem votar.
Até porque o Brasil inteiro precisa disso desesperadamente.

Ato falho








 


Os pensamentos, às vezes, tomam atalhos e fazem associações sem que o pensante tenha consciência do fato. Por isso, muitas vezes falamos algo quando, na verdade, pensamos outra bem diversa. Isso acontece especialmente quando a nossa mente está ocupada com dois assuntos diferentes ao mesmo tempo. Diz-se, então, que cometemos um ato falho. Eu, particularmente, prefiro dizer que foi um mico mesmo.

Foi assim que aconteceu com a minha grande e distraída amiga, a Lu, numa ocasião em que foi estudar na casa de um nosso colega, cuja mãe havia preparado um lanche que mais parecia um banquete, a ponto de fazer com que a minha esfomeada e gulosa amiga ficasse como que hipnotizada. Afinal, todos sabem que estudar muito dá uma fome danada.
Ela estava pronta pra provar cada um dos petiscos, quando o pai do colega entrou na sala de jantar e avisou à esposa que iria dar uma passada no órgão público tal, onde trabalhava. A mãe da Lu trabalhava neste mesmo órgão. Então, sem parar de olhar pr'aquela mesa farta e apetitosa, ela falou assim:

-- Ah, o senhor deve comer muito a minha mãe!

O tempo parou. Todos na sala ficaram congelados e com os olhos escancaradamente arregalados. O pai do colega, com a voz hesitante, constrangida e lenta, retrucou:

-- Eu... acho... que... não.

Vivi, outra colega presente, que estava louca pra dar uma gargalhada, virou-se pra Lu e tentou remediar:

-- Lu, eu creio que você quis dizer "O senhor deve CO-NHE-CER muito a minha mãe", não foi?

E a distraída esfomeada, muito surpresa, perguntou na maior inocência:

-- E não foi isso o que eu disse?

Aí sim, todos caíram na gargalhada.

Se eu fosse o Conan Doyle...




Depois de dar uma breve porém muito atenta olhada no seu desconhecido interlocutor, Sherlock Holmes assim se pronunciou:

-- Vejo que o senhor costuma viajar à França, que mora no interior, que aprecia a vida ao ar livre, que gosta de comida italiana, que fuma charutos, que é míope, que é solteiro e que tem um bom rendimento financeiro.

-- Impressionante! -- exclama o homem -- Poderia me dizer como chegou a todas estas conclusões?

-- Elementar, meu bom homem! -- respondeu o famoso detetive -- Apenas usei minha arguta observação e minha infalível inteligência analítica...

-- Pois bem, -- retrucou o desconhecido -- então explique-me, por obséquio, como o fez...

-- Naturalmente. -- concordou Mr. Holmes -- O seu casaco de corte e tecido franceses deu-me a pista de suas andanças. As botas sujas de lama indicam que mora no interior, onde as estradas não têm pavimento. Sua pele bronzeada revela o seu estilo de vida ao ar livre. Esta pequena mancha de molho de tomate na lapela atesta seu gosto pela culinária italiana. Os fios amarelados no centro do seu bigode demonstram seu hábito de fumar charutos. Seus olhos constantemente apertados revelam a miopia. A ausência de aliança na sua mão esquerda diz-me que não é casado e, finalmente, a qualidade das suas roupas e calçados fala-me sobre sua condição financeira.

-- Estou deveras impressionado, Sir... -- declara o interlocutor -- Mas devo rebater um a um dos tópicos que o senhor mencionou.

E, diante da expressão de cética surpresa estampada no rosto sério de Mr. Holmes, continua:

-- Um amigo francês presenteou-me com este paletó que não mais lhe servia. A bota, sujei-a de lama ao visitar as obras de reforma dos jardins da casa de meu empregador. Minha pele bronzeada se deve ao fato de que, aproveitando a chegada deste verão, reconstruí com minhas próprias mãos o telhado de minha humilde casa. A mancha na lapela foi causada pelos respingos do tomate que caiu da caixa que o verdureiro carregava sobre sua cabeça, ao passar por mim pela rua. Os fios amarelados no meu bigode, de fato, devem-se ao meu hábito do tabagismo, mas prefiro os cigarros feitos à mão aos charutos. Meus olhos constantemente apertados devem-se à fotofobia e não à miopia. A ausência de aliança em meu dedo anular explica-se pelo fato de que, tendo perdido muito peso devido a uma doença crônica, precisei mandá-la ao joalheiro para que fizesse o necessário ajuste. E a qualidade do meu vestuário explica-se pela circunstância de que minha prima predileta, tendo enviuvado recentemente de um abastado negociante, presenteou-me com as roupas e botas de seu falecido marido.

Elementar, meu caro Holmes.


*

Este texto é só uma brincadeira despretensiosa, porque na verdade sou fã do Conan Doyle e do seu impagável Sherlock Holmes. :)