sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Nóis agora é crasse média!




-- Creuzileidy, minha nêga, nóis agora é crasse média! :)

Foi assim que o "Assistente Operacional da Construção Civil" -- ex-ajudante de obras --, desempregado, naturalmente, e sustentado pelo Seguro Desemprego, bem como pela Bolsa Família e pelos eventuais bicos em que faz de conta que trabalha, comemorou a aquisição de seu mais recente bem de consumo: uma TV LCD de 42 polegadas.
Mas a Creuzileidy, sua nêga, que estava naqueles dias de TPM e lucidez, rebateu de bate-e-pronto:

-- Só se for crasse   m é r d i a , Wesleyson, pruque a fossa tá vazano de novo. E tá essa nojera tudo imporcaiano e carcumeno a rua, que os ômi disse que ia butá isgoto e carçamento pra nóis e num butô nadinha, tem pra mais de oito ano que eles diz que vai ponhá e num sai do "diz-qui-faiz".

-- Ah, Creuzileidy, tu larga de sê injusta, muié. Nóis agora tem geladera fró... fróis... aquele trem que num pricisa de discongelá, mánica de lavá ropa, forno de microonda, parêio de som cum MP3 inté MP1000, computadô, celulá, tudim que nóis comprô cum prestação bem baratim.

-- Larga de sê troxa, ômi! Se ocê faiz as conta, quando que ocê cabá de pagá essas prestação, vai tê pagado duas ou trêis vêiz o valô dessa trapizonga tudo, ô bestcha! Tu tá é encheno a burra dos dono das loja. Se ocê tinha guardado esse dinhero na popança, no final do mermo tempo que vai levá pra cabá de pagá as prestação, tu comprava tudim que comprô em dobro.

-- Mais aí nóis ficava sem geladera, sem microonda, sem TV LCD, sem nada inté pudê comprá.

-- Ô, Wesleyson, criatura, raçocina mais eu: tu num viveu inté hoje sem essas traia tudo? Tu morreu pru causa disso? Custava vivê mais um cadim desse jeito e isperá pra num isperdiçá dinhero, ômi de Deus?

-- Ô, Creuzileidy, nóis num pudia isperá nada. Vai que o ômi lá de cima num consiguia elegê de novo nem num consiguia elegê aquela otra lá que vai fazê ingalzim ele. Aí pirigava nóis perdê essa ajuda tudo que eles dá pra nóis. Ocê num se alembra cumé que era antes, não? Nóis tinha que ralá feito uns condenado pra ganhá uma mixaria.

-- É, pelo meno nóis ganhava cum o suó do trabaio nosso honestcho e num pricisava de ficá dependeno desse ou daquela elegê pra nóis ficá nessa vagabundage, cum o fiofó na mão de medo de perdê a mamata.

-- Tu prifiria ralá feito uma condenada, muié?

-- Prifiria e prifiro ainda. É mais honestcho. Até pruque se nóis trabaia, nóis tem mais pudê de barganhá, de inxigi os direitcho nosso. Sem contá que tu naquele tempo num vivia bebo feito um gambá o tempo todo, era só de vêiz em quano.

-- Tu tem cada ideia, muié! Eu prifiro cuma é agora. Os minino nem num tem que ir pra iscola mais pra nóis ganhá a bolsa!

-- É, os minino nem num tem mais que ir pra iscola, nem num ia mermo pruque num tem merenda e os professô veve de greve, inda pirigava o teto da iscola dispencá nas cabecinha deles. E ocê acha isso bão, né? Teus fíi vai crecê burro ingal ocê, sem instrução, sem profissão, uns disqualificado, e ocê acha que isso é bão.

-- Mais eles pode istudá na facudade! Agora é moleza entrá na facudade.

-- Wislim, meu nêgo, antes de entrá na facudade eles pricisa istudá na iscola. Linhais, nem num pricisa entrá na facudade pra aprendê um ofiço decente de bombero, de letricista, de técono de computadô, de um monte de ofiço bão que aprende na iscola ténica. Num sei pruque que os pissuá tudo só qué sabê de facudade agora! Ocê já pensô se todo mundo qué sê só dotô, onde é que vai rumá gente pra fazê o trabaio do letricista, do bombero, do técono...?

-- Isso é pobrema deles lá de cima. Eles que resolve. É só nóis continuá votano em quem que o ômi aquele mandá nóis votá, pra num perdê os adijutório.

-- Ô, Wesleyson de Deus, ômi, ocê acha mermo que isso vai continuá pra todo sempre, criatura? Um dia tudo isso pode cabá, istancá. Um dia eles pode dizê sem mais nem essa nem aquela que o dinhero deles lá cabô e que num tem mais pra dá pra nóis. Se ocê se fia nessa esmolança pra vida toda, tu é mermo uma besta, Wislim!

-- Ô, Creuzileidy, ocê acha mermo que isso pode assucedê? Se o dinhero cabá, eles manda fazê mais.

-- Ômi do céu, tu é mermo disinformado. Eles num tem pudê de fazê dinhero. Eles pricisa vendê uns trem pros istrangero, pegá os imposto que os crasse média de verdade paga cum os salaro deles e essas coisa que eu num comprendo muito bem, mas que é assim que assucede. Se um dia dá um pipoco nos negoço dos rico e dos istrangero, nóis tudo fica no sal.

-- Cuma é que ocê sabe isso?

-- Pruque eu era impregada de uma professora que ixplicô tudim pra eu. Foi onde que eu assuntei que o istudo faiz mermo falta. E que se nóis qué mermo sê crasse média, nóis tem que istudá pra aprendê um ofiço, trabaiá, ganhá salaro e pagá imposto pra pudê morá num bairro com rua carçada, cum isgoto, com ombus miózim e iscola e hospital de gente rico. E votá no candidato que nóis iscoiê não pruque vai dá ismola, mais pruque vai fazê miorá as rua, os isgoto, os hospital, as iscola, os emprego, mas miorá de verdade, né só de prometê ou de dizê que feiz e num feiz nada.

-- E inxiste candidato esse que promete essas coisa e faiz, nêga?

-- Taí, Wislim, tô pra vê um que faiz isso pra nóis que é crasse mérdia, meu nêgo. Eles só faiz mioria mermo é pra gente rico. Pra nóis, ou eles dá uma ismolinha ou eles dá só promessa.

*

No dia em nós, como povo, entendermos que depende muito da gente -- e não só dos políticos, que são do mesmo povo e eleitos por nós, do povo --, este país poderá se desenvolver de verdade e não só de faz de conta.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mudansança




Mudança é bom, a gente muda de ares, lares e lugares, mudam-se as paisagens, as visagens e outras agens, mudam-se os vizinhos, os caminhos e os eventuais espinhos, mas também cansa. E como cansa!
Não foi desta vez ainda que me mudei, mas ajudei a mudar o Binha, amigo-sobrinho muito querido, companheiro das happy hours (e das bad hours também), bom de copo e de papo e que, como eu, não perde a piada nem o amigo nem chance alguma de destilar o mais puro besteirol pra pontuar os assuntos sérios que insistem em ser debatidos nesta vida séria de adulto.
Não que eu estivesse muito disposta a pegar no pesado, que amizade tem limites, tanto que cheguei, me sentei na única cadeira livre, abri uma cerveja e fiquei filosofando sobre o quanto o trabalho alheio é dignificante e construtivo, algo que realmente nos enobrece e motiva. Mas logo-logo o sujeito me delegou tarefas bem criteriosas: de fato, não peguei no pesado, mas caminhei quilôôômetros indo ali no comércio de quando em vez pra comprar miudezas e que tais, buscando carrinho de compras do condomínio e fazendo trocentas viagens pra me livrar das caixas que aos poucos foram se esvaziando y otras cositas mas.
Nessas idas e vindas, fiquei íntima dos porteiros e de alguns dos vizinhos, que pensavam que era eu a feliz nova moradora do pedaço. E a Providência premiou minha prestatividade, ainda que compulsória, ao colocar ali no banco de concreto dos pilotis um rapaz ensaiando um belíssimo violão erudito, tocado com muita competência e graça, quiçá um rondó ou algo do gênero, e eu me pus ali parada, toda ouvidos, até me lembrar que não tava ali a passeio, mas isaurando por um amigo que já isaurou por mim também em outras ocasiões. Um mamão lava o outro, né?

Agora o Binha tá lá, junto com os filhotes, muito bem alojado, ou melhor, apartamentado,
tudo nos lugares certos -- que o moço é jeitoso e logo transformou aquela balbúrdia de coisas dispersas num lar acolhedor e bonito -- e isso deixou todo mundo contente. E eu fiquei com mais vontade ainda de que chegue logo a minha vez de juntar as tralhas todas e me mandar daqui pra outro canto mais promissor e aconchegante. Há de. Preciso tirar o limo, como fazem as pedras que rolam.
Enquanto não chega a minha vez, continuo aqui ralando e me recuperando da canseira que foi descansar ajudando o amigo-sobrinho a se mudar. Ufa!... Tá pensando que é mole ficar olhando os outros enquanto eles pegam no pesado, tá? Eu fiquei e-xaus-ta!




domingo, 10 de outubro de 2010

Tremendão!

"Well, shake it up baby now
(Shake it up baby)
Twist and shout"
(The Beatles - Phil Medley / Bert Russell)


Eu tava na ressaca de uma pós-enxaqueca, meio zonza, meio lesa, quando de repente a mesa do computador começou a chacoalhar. Pensei que tinha dado um esbarrão na dita cuja, sem me dar conta do fato, e segurei a beirada pra estabilizar. Mas em vez da mesa parar, a cadeira também começou a chacoalhar de levinho. E eu pensei: que melda é essa? Será que eu tô assim tão trêmula?
Só no dia seguinte fiquei sabendo o que tinha acontecido. Ao ler o jornal, vi que Brasília e Erasmo Carlos tinham algo em comum: ambos são tremendões. Uma placa tectônica resolveu se espreguiçar e provocou a chacoalhada no Planalto Central. Pelo menos foi isso que os geólogos disseram. Eu tenho outra teoria.
A pele do cavalo dá umas tremidinhas pra espantar as moscas, não dá? Pois foi isso que a pele do planalto fez: deu uma tremidazinha básica pra espantar os parasitas. Pena que não tremeu o bastante. Os parasitas continuam aqui, alguns no final do prazo de validade, outros prestes a renovar, outros mais a iniciar.
E os maledicentes elaboraram uma terceira teoria: dizem que foi um flato da Dilma que causou a tremedeira. Que exagero! Ela não tá com todo esse gás, não. Mas bem que poderia ter acontecido de o planalto estar tremendo de medo que a Wilza... não, a Wilma... não, a Weslian Horroriz ganhe no segundo turno. Afinal, se um horroriz incomoda muita gente, dois horrorizes incomodam, incomodam muito mais.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

NOVAS PROFISSÕES


 texto de  Maria Iaci e  Vany Grizante Oswaldo Biancardi Filho






- Almoxerife: policia e prende quem rouba o almoxarifado.
- Anustesista: aplica anestesia com injeções no... glúteo.
- Arquitétrico: só faz casas medonhas.
- Azulegista: faz necropsia de azulejos finados.
- Betaiate: o segundo costureiro da turma; o primeiro é o Alfaiate.

- Biombeiro: combate incêndios em biombos e divisórias em geral.
- Boiólogo: estuda as bichas.
- Corpinteiro: faz telhados altos, onde cabe uma pessoa de pé.

- Costoureiro: responsável pelas roupas dos ídolos das touradas.
- Devogado: profissional do Direito com especialização em trambiques pecuários.
- Escrotor: escreve livros horrendos.
- Exgenheiro: só faz projetos externos.

- Farmacético: não acredita muito nos remédios que comercializa.
- Fornoaudiólogo: ensina pessoas com problemas de fonação e audição a preparar deliciosas tortas.
- Jardinheiro: expert em plantar e cuidar de grana.
- Ingenheiro: só faz projetos internos.
- Menteorologista: faz previsões climáticas furadas na TV.
- Merceneiro: faz móveis apenas por interesse pecuniário.
- Motoboi: faz delivery de carne pra churrasco.

- Motorrinolaringologista: trata dos ouvidos e garganta de motoqueiros.
- Observente de Peidreiro: aprendiz de peidreiro (veja adiante o verbete para este último).
   obs.: alguns etimólogos preferem o termo Absorvente de Peidreiro.

- Osculista: especialista em beijos.

- Ourríveis: lida com artefatos de ouro de extremo mau gosto.
- Peidreiro: usa gases biodigestivos na argamassa aerada.
- Percevejeiro: faz, perseverantemente, cerveja à base de percevejos.
- Pilontro: corredor automobilístico que sacaneia os adversários.

- Pisaiolo: prepara pizzas inclinadas.
- Piscólogo: estuda todo tipo de piscadas e piscadelas.
- Pobrecitário: faz propagandas para empresas que estão no vermelho.

- Ripórter: comunicador que só faz matérias engraçadas. 
- Saparteira: só faz parto de caminhoneiras, estivadoras e sapatões grávidas em geral. 
- Saúva-vidas: zela pela segurança das formigas nas praias.
- Timtureiro: lava e passa celulares da Tim.
- Veturinário: urologista animal.

domingo, 8 de agosto de 2010

Coleta Seletiva de Lixo








Passando em frente ao Congresso, reparei que por ali por perto havia daqueles recipientes coloridos para coleta seletiva de lixo. Então, além de os próprios nobres parlamentares (como de costume), uma dúvida cruel me assaltou:
   Em qual deles devemos descartar deputados e senadores?
   Afinal, todos são orgânicos, pois organizam-se em quadrilhas para tramar falcatruas e sugam o erário dos órgãos responsáveis pelo bem estar geral da Nação. Fora o que, todos têm prazo de validade e muitos já cheiram à podridão há muito tempo. Mas alguns são recicláveis e, entra governo, sai governo, seja dito de direita ou de esquerda ou neo-liberal, estão sempre voltando pra onde jamais deveriam ter ido, ou seja, pro Poder.
    Poderiam também ser descartados nos recipientes destinados à madeira, porque todos, sem exceção, caracterizam-se pela lustrosa cara de pau.
    Mas também podem ser jogados nos recipientes para vidro, pois não há entre eles quem não tenha telhado feito deste material.
   Poderiam ainda ser descartados nos recipiente para metal, pois seus bolsos, cuecas, malinhas e maletas, bem como meias, vivem recheados de vil metal.
    No de papel também, porque os projetos que enchem as vistas dos eleitores não saem do papel e eles, os nobres parlamentares, vivem fazendo papelão. De quê, nem preciso dizer.

Sei não...  às vezes penso que um bom e velho aterro sanitário pode dar conta disso. Afinal, sanear as finanças públicas talvez dependa de um gesto radical: botar tudo no lixo mesmo e, de repente, fazer com que virem adubo. Mas não esquecendo de descontaminar antes, para que a ladroeira não dê frutos. Economizamos os recipientes e os conservamos para reciclar o que deve ser reciclado, jogamos fora o que deve ser jogado e, acima de tudo, pensamos no meio ambiente: deixamos apenas aqueles políticos realmente interessados na  sustentabilidade e na preservação da nossa natureza (se é que eles existem): tanto a biológica, com nossas matas e rios, quanto humana - nossa propalada credulidade e ingenuidade, que deixou que as coisas chegassem a esse ponto!

Provavelmente, em frente ao Planalto não haverá desses recipientes para lixo reciclável. É possível que haja apenas um grande contêiner, porque não há como se diferenciar um presidente de outro, nem um ministro do supremo de outro: é tudo a mesma b... bela porcaria. E como fedem!...

Bem, pelo menos temos alguém feliz com isso: as moscas.


Maria Iaci e Vany Grizante


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Neurônios nada poéticos e muito calorentos




Aqui estava eu, tentando compor uma poesia de amor... mas o calor (e não é pra rimar) está demais!
Imagine o verão no inferno... Imaginou? Pois aqui está mais quente ainda!

Então meus neurônios se rebelaram e resolveram que eu só iria escrever o que eles quisessem. Assim, conforme eu tentava escrever um verso, eles já se interpunham e o reescreviam.

Meus neurônios com calor ficam insuportáveis!
E a poesia ficou assim:


(Só um bilhete de paixão eu te escrevi)
 Só um sorvete de limão eu consegui

(Pois me conduz, me joga ao vento o teu ardor)
 Onde é que eu pus a droga do ventilador?

(Espero o abraço carinhoso, o meu albergue)
 Quero um pedaço bem frondoso de iceberg

(É o apelo de teu par, ó meu amor...)
 Me dá mais gelo pra botar no regador...


            (Eu me orgulho desta sina que me guia)
             E eu mergulho na piscina de água fria

            (Até um corpo em que me veja revelada)
             Até o copo de cerveja bem gelada

            (Teu corpo esguio encobre a leve calmaria)
             Sonho que esquio sobre a neve bem macia

            (E me assombra a paixão abençoada)
             E minha sombra aqui no chão tá bem suada.


(Eu vou mimar o meu amado para sempre)
 Eu quero o ar condicionado bem de frente

(Tu não atinas que de chofre tenho paz)
 A serpentina gela o chope do rapaz

(A tua amada viverá sempre ao teu lado)
 É limonada, guaraná e chá gelado

(E eu sozinha, abandonada, nunca mais!)
 Da caipirinha bem gelada eu quero mais!



Vany Grizante e Maria Iaci


domingo, 1 de agosto de 2010

Pequeno Dicionário Latim-Português



A latere = olha lá, Tereza!
A non domino = ah, dominó não!
Ab absurdo = um sujeito absurdamente gago.
Animus necandi = necas de ânimo...
Bona fide = é boa, mas fede.
Brevi manu = irmão que morreu novinho.
Caput = PQP!
Caso sub judice = casou na marra.
Conditio sine qua non = meu tio conde não quer ir ao cinema.
Confessio est probatio omnibus = confesso e provo que bati o ônibus do tio...
Consilium fraudis = aconselho o uso de fraldas.
Corpus delicti = corpo delicioso.
Custas pro rata = deixa a rata pagar a conta.
De cujus = virado pra lua.
Erga omnes = levantem, homens!
Est modus in rebus = tenha modos, mesmo no meio de um rebu.
Ex abundantia = tia bunduda que emagreceu.
Ex expositis = ex-marido da tia.
Expressis verbis = verbos ligeiros.
Facultas agendi = agenda da faculdade.
Hic et nunc = não soluço nunca mais!
ld est = vá pro leste.
lmpotentia generandi = general brocha.
lmprimatur = imprima você, ora!
In loco = no louco.
Norma agendi = agenda da Norma.
Notitia criminis = não tenho tia criminosa.
Pari passu = (no jogo de poker) paro e passo.
Passim = passo pequeninim.
Persona non grata = pessoa mal-agradecida.
Post scriptum = poste todo pichado.
Prima facie = cara da prima.
Quaestio facti = qual é, tio, faz aí!
Res furtiva = vaca dissimulada.
Res litigiosae = vaca brava.
Sententia est = você tem tia no leste?
Sub voce = embaixo de você.
Venda ad corpus = prostíbulo.
Versus = poesias.

sábado, 31 de julho de 2010

Pequenos Monstros



Neste fim de semana assisti a um DVD da BBC (vixe, quanta sigla!) chamado "Pequenos Monstros", que estava mais preocupado em exibir as excelências da tecnologia moderna, com as microcâmeras e as fibras óticas, do que em explicar mais detalhadamente o comportamento dos astros principais, ou seja, dos simpáticos representantes dos reinos insetal, aranhal e vermal. Mas que, ainda assim, foi bem legal!

Dentre todos os pequenos e fofos monstrinhos, o que mais me inpressionou foi uma espécie de aranha que vive sei lá onde (esqueci), em que o aranho é quem faz o ninho. E no maior capricho, com a precisão de um engenheiro, com o esmero e a arte de um arquiteto e com a boiolagem de um decorador.
Os aranhos ficam lá fazendo os ninhos na terra e as aranhas vão passeando, examinando um aqui, outro ali, até escolherem o mais bacana. Aprovado o ninho, automaticamente aprova-se o aranho construtor. Então a aranha chega juntinho do eleito e diz pra ele em aranhês que tá a fim. Daí o aranho pega e transa com ela, o que acontece mais rapidamente do que o tempo que eu levei pra dizer "o aranho transa com ela".
E vejam vocês, lerdos leitores, vós que levais de sete a nove meses pra preparar um bebezinho, em 20 minutinhos a aranha já põe um ovinho e vai-se embora toda serelepe. O aranho, então, limpa e enterra cuidadosamente o ovinho em seu ninho, e fica lá esperando pela próxima. Bem, a julgar pela quantidade de ovinhos enterrados no ninho, é um entra-e-sai de aranhas em alta rotatividade, maior embalo!
Mas às vezes acontece de chegar uma aranha que examina toda exigente o apê do rapaz, aprova, concede -- o aranho vai lá e manda ver! -- e aí os minutos vão passando e o aranho vai ficando cabreiro, nervoso. Depois de esgotado o tempo regulamentar e vendo que não sai nenhum ovinho daquela pilantra estéril, o bicho manda ela ir embora que ele tem mais o que fazer. Mas a bicha, vingativa, antes de sair vai lá e rouba alguns dos ovinhos alheios e os come sem nenhuma cerimônia. Então o aranho parte pras vias de fato e pra ignorância e tasca umas mordidonas nos cambitos da ladrona e põe ela pra correr.
Semanas depois, os ovinhos eclodem e nascem muitas aranhinhas e aranhinhos, que ficam por ali com o orgulhoso papai, que tem só uns 2 ou 3 dias pra ensinar todos os fatos da vida pra filharada antes que ela saia pro mundo.
O que o filme não explica é: o que acontece depois? O aranho cai na balada? Abandona aquele ninho e vai passear por aí, conhecer outras paisagens, outras espécies, fazer um intercâmbio cultural? Quanto tempo leva entre um ciclo reprodutivo aranhal e outro? Será que no próximo, o aranho, a quem a gente já se afeiçoou tanto, vai fazer o mesmo sucesso que fez neste?

* * *

Outro ser que me impressionou foi a lesma. Quando chega o ciclo da furunfação, ela chega por trás da outra e dá-lhe uma beliscada no bumbum. Esta é a senha pra que as duas subam por uma árvore, escorreguem por sob um galho, soltem um fio de baba gosmenta no qual se penduram e começam a se enroscar uma na outra, tal qual uma cadeia de DNA. E, sendo hermafroditas, ambas têm piu-piu e periquita. Só que, em vez de fazerem as coisas como a gente pensa que deveriam fazer, depois de estarem totalmente enroscadas, elas começam a enroscar também seus piu-pius um no outro até fazerem uma bola de esperma e só então fecundam-se uma à outra -- ou um ao outro, como queiram --; mas o mais incrível é que levam uma hora inteira nesta enroscação desenfreada!
Conheço alguns gays que adorariam fazer o que elas fazem! Vão todos pedir pra serem lesmas na próxima encadernação!

* * *

E a centopéia, que leva nada menos do que duas horas no rala e enrosca!
Porém, antes que vocês as invejem, deixem-me esclarecer que, antes de partir pros finalmentes, o centopéio tem que usar toda a força e persuasão de suas cem perninhas pra desenrolar a centopéia, que fica lá fazendo o maior doce e não dá mole, não! Depois que consegue a muito custo desenrolar a moça, duas das perninhas dianteiras do centopéio transformam-se em piu-pius e ele vai lá e penetra num orifício que fica logo abaixo da cabeça da pernuda.
Agora, não sei se devido ao fato de ter poucas centopéias e sobrarem centopéios, ou se porque a centopéia protagonista do filme era mais jeitosinha e gostosona do que as outras, o fato é que, enquanto o casal tá lá no maior love, chega um outro centopéio e, sem a menor cerimônia, vai pisando com a sua centena de perninhas sobre o casal e tenta desesperadamente separá-lo pra tomar o lugar do outro.
No caso, o primeiro centopéio venceu a parada e botou o intrometido pra correr. Ufa!...

* * *

Finalmente, impressionou-me muito verificar que existe mau-caratismo também nos reinos insetal, vermal e aranhal -- é centopéio querendo empatar a transa do outro, é aranha roubando ovinho do aranho, é outra aranha roubando o mosquito que pousou na teia alheia, e por aí vai...

Mas, não importa quanta ventura possa haver na vida sexual-amorosa da bicharada, porque acho bom mesmo é pertencer ao reino hominal-mulheral. Por mais que tenhamos desvantagens como pagar impostos, pagar micos, aturar políticos corruptos, protozoários no trânsito, trogloditas no dia-a-dia etc, no final das contas somos bem mais bonitinhos do que aqueles pequenos e nojentos monstrinhos...


(Este texto foi escrito no segundo semestre de 2005)


sexta-feira, 23 de julho de 2010

"Brasília - Capital da Esperança"




Há um hino a Brasília cujo título é o verso final da letra -- e que a maioria dos brasilienses pensa que é o hino oficial, de tanto ouvi-lo por aqui -- "Brasília - Capital da Esperança".
Ao ouvi-lo hoje, me pus a refletir sobre o seu significado... e cheguei a algumas conclusões.

Sim, Brasília é de fato a Capital da ESPERANÇA.

- Muitos brasileiros ESPERAM que Brasília se exploda e desapareça da face da terra, como se a cidade em si fosse responsável pela corrupção desenfreada e os desmandos de alguns políticos e governantes deslumbrados.

- Vários brasileiros ESPERAM pegar carona nas mamatas oficiais e oficiosas que emanam daqui, como a bolsa esmola (que dá o peixe mas não ensina a pescar), o salário presidiário (sem que o preso trabalhe dentro da cadeia), as verbas pro MST (pra custear invasões de fazendas produtivas), só pra exemplificar.

- Outros tantos ESPERAM ser eleitos pra poderem vir pra cá, por dois ou três dias na semana, exceto nas longas férias e feriados, ganhando salários indecentemente altos, várias ajudas de custo, até décimo sétimo salário, passagens aéreas gratuitas, mordomias mil, imunidade parlamentar, empregos fantasma pra familiares e cupinchas, além de meios perfeitamente propícios pra se fazer todo tipo de falcatrua e negociata.

- E mais outros tantos brasileiros, em especial os brasilienses de fato e de coração, como eu, ESPERAM ansiosamente que o resto do Brasil pare de mandar esses pulhas pra cá, mandando em seu lugar políticos verdadeiramente honestos e bem intencionados ou então que, pelo menos, anule seu voto caso não haja candidatos confiáveis em quem votar.
Até porque o Brasil inteiro precisa disso desesperadamente.

Ato falho








 


Os pensamentos, às vezes, tomam atalhos e fazem associações sem que o pensante tenha consciência do fato. Por isso, muitas vezes falamos algo quando, na verdade, pensamos outra bem diversa. Isso acontece especialmente quando a nossa mente está ocupada com dois assuntos diferentes ao mesmo tempo. Diz-se, então, que cometemos um ato falho. Eu, particularmente, prefiro dizer que foi um mico mesmo.

Foi assim que aconteceu com a minha grande e distraída amiga, a Lu, numa ocasião em que foi estudar na casa de um nosso colega, cuja mãe havia preparado um lanche que mais parecia um banquete, a ponto de fazer com que a minha esfomeada e gulosa amiga ficasse como que hipnotizada. Afinal, todos sabem que estudar muito dá uma fome danada.
Ela estava pronta pra provar cada um dos petiscos, quando o pai do colega entrou na sala de jantar e avisou à esposa que iria dar uma passada no órgão público tal, onde trabalhava. A mãe da Lu trabalhava neste mesmo órgão. Então, sem parar de olhar pr'aquela mesa farta e apetitosa, ela falou assim:

-- Ah, o senhor deve comer muito a minha mãe!

O tempo parou. Todos na sala ficaram congelados e com os olhos escancaradamente arregalados. O pai do colega, com a voz hesitante, constrangida e lenta, retrucou:

-- Eu... acho... que... não.

Vivi, outra colega presente, que estava louca pra dar uma gargalhada, virou-se pra Lu e tentou remediar:

-- Lu, eu creio que você quis dizer "O senhor deve CO-NHE-CER muito a minha mãe", não foi?

E a distraída esfomeada, muito surpresa, perguntou na maior inocência:

-- E não foi isso o que eu disse?

Aí sim, todos caíram na gargalhada.

Se eu fosse o Conan Doyle...




Depois de dar uma breve porém muito atenta olhada no seu desconhecido interlocutor, Sherlock Holmes assim se pronunciou:

-- Vejo que o senhor costuma viajar à França, que mora no interior, que aprecia a vida ao ar livre, que gosta de comida italiana, que fuma charutos, que é míope, que é solteiro e que tem um bom rendimento financeiro.

-- Impressionante! -- exclama o homem -- Poderia me dizer como chegou a todas estas conclusões?

-- Elementar, meu bom homem! -- respondeu o famoso detetive -- Apenas usei minha arguta observação e minha infalível inteligência analítica...

-- Pois bem, -- retrucou o desconhecido -- então explique-me, por obséquio, como o fez...

-- Naturalmente. -- concordou Mr. Holmes -- O seu casaco de corte e tecido franceses deu-me a pista de suas andanças. As botas sujas de lama indicam que mora no interior, onde as estradas não têm pavimento. Sua pele bronzeada revela o seu estilo de vida ao ar livre. Esta pequena mancha de molho de tomate na lapela atesta seu gosto pela culinária italiana. Os fios amarelados no centro do seu bigode demonstram seu hábito de fumar charutos. Seus olhos constantemente apertados revelam a miopia. A ausência de aliança na sua mão esquerda diz-me que não é casado e, finalmente, a qualidade das suas roupas e calçados fala-me sobre sua condição financeira.

-- Estou deveras impressionado, Sir... -- declara o interlocutor -- Mas devo rebater um a um dos tópicos que o senhor mencionou.

E, diante da expressão de cética surpresa estampada no rosto sério de Mr. Holmes, continua:

-- Um amigo francês presenteou-me com este paletó que não mais lhe servia. A bota, sujei-a de lama ao visitar as obras de reforma dos jardins da casa de meu empregador. Minha pele bronzeada se deve ao fato de que, aproveitando a chegada deste verão, reconstruí com minhas próprias mãos o telhado de minha humilde casa. A mancha na lapela foi causada pelos respingos do tomate que caiu da caixa que o verdureiro carregava sobre sua cabeça, ao passar por mim pela rua. Os fios amarelados no meu bigode, de fato, devem-se ao meu hábito do tabagismo, mas prefiro os cigarros feitos à mão aos charutos. Meus olhos constantemente apertados devem-se à fotofobia e não à miopia. A ausência de aliança em meu dedo anular explica-se pelo fato de que, tendo perdido muito peso devido a uma doença crônica, precisei mandá-la ao joalheiro para que fizesse o necessário ajuste. E a qualidade do meu vestuário explica-se pela circunstância de que minha prima predileta, tendo enviuvado recentemente de um abastado negociante, presenteou-me com as roupas e botas de seu falecido marido.

Elementar, meu caro Holmes.


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Este texto é só uma brincadeira despretensiosa, porque na verdade sou fã do Conan Doyle e do seu impagável Sherlock Holmes. :)