quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Passatempos para um trânsito congestionado



Não há melhor maneira de se começar o dia do que enfrentando um trânsito ultra congestionado!
Seu carro se arrasta leeeeeentamente por dois ou três metros e pára. Então você tem tooodo o tempo do mundo pra jogar uma partidinha de qualquer coisa no celular, limpar sua caixa de entrada e de saída no dito cujo, lixar as unhas, pregar os botões que caíram do seu casaco predileto, ler o Ulisses do James Joyce, de cabo a rabo, umas cinco vezes; ou ainda ficar apreciando os mais variados modelos de carros, caminhões, camionetes, vans, motocicletas, analisando suas características estéticas e técnicas, estilos, cores, acessórios; quiçá olhar pros pedestres, tão livres e soltos lá fora, e reprimir uma invejazinha deles ao imaginar que muito provavelmente eles saíram de ou estão indo para um ônibus mais lotado do que lata de sardinha.

De repente, pára um carro ao seu lado. Pra ser um trio elétrico, só falta o tamanho, porque o repertório e os decibéis das músicas (o termo é uma licença poética) são bastante apropriados. Claro, você desliga o seu som, onde rolava bem baixinho um blues ou jazz, e passa a curtir uma eguinha pocotó ou uma cachorra sei lá o quê ou qualquer coisa acerca de uma boquinha de garrafa. E ainda pensa como é bom poder variar e enriquecer seu repertório.

Por vezes, descobre novos passatempos pra se distrair no engarrafamento (será que a tal boquinha da garrafa tem a ver com isso?), como por exemplo, tentar adivinhar quantas vezes o sinal lááá na frente irá abrir e fechar antes que você consiga chegar lá. Recomendo fechar a janela ao praticar este joguinho, porque os trezentos e quarenta oito vendedores de balinha, água, pano de chão, pano de prato, bonecos infláveis, chiclete, chocolate, bem como os entregadores de folhetos os mais variados certamente irão lhe abordar sem trégua.
A menos que você prefira passar o looongo tempo de espera justamente lendo cuidadosa e atentamente todos e cada um destes folhetos. E ainda irá aprender algo a respeito de sua língua escrita, como por exemplo, a grafia do termo "tela mosquEteira", "entrega À domicílio", "conCerto de inGeSSão eletrOnica" e por aí vai.

Há também o excitante jogo de adivinhação que consiste em tentar prever qual dos carros vislumbrados nos seus retrovisores irá se espremer perigosamente entre os demais a fim de tirar um fino magistral da lataria do seu carro e tomar a sua dianteira, entre roncos furiosos de motor e guinchos agudos dos pneus nas freadas súbitas. Pura adrenalina! Melhor que bangee jump!

Por fim, ainda há a chance de rolar uma paquera, porque 99,99% dos carros à sua volta levam apenas o seu ou a sua motorista, cuja condição solitária, ainda que transitória (com trocadilho), facilita bastante o desenrolar da coisa.
Caso não obtenha sucesso nesta empreitada, pelo menos lhe restará o consolo de ler nos vidros traseiros dos muitos chevetes e corcéis e caravans que uma certa divindade lhe é fiel e que outra, ainda, lhe ama. Pelo menos alguém lhe ama e lhe é fiel, não é mesmo?

Está vendo só como é super divertido pegar congestionamento? Não entendo porque as pessoas reclamam tanto...

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