sexta-feira, 23 de julho de 2010

Se eu fosse o Conan Doyle...




Depois de dar uma breve porém muito atenta olhada no seu desconhecido interlocutor, Sherlock Holmes assim se pronunciou:

-- Vejo que o senhor costuma viajar à França, que mora no interior, que aprecia a vida ao ar livre, que gosta de comida italiana, que fuma charutos, que é míope, que é solteiro e que tem um bom rendimento financeiro.

-- Impressionante! -- exclama o homem -- Poderia me dizer como chegou a todas estas conclusões?

-- Elementar, meu bom homem! -- respondeu o famoso detetive -- Apenas usei minha arguta observação e minha infalível inteligência analítica...

-- Pois bem, -- retrucou o desconhecido -- então explique-me, por obséquio, como o fez...

-- Naturalmente. -- concordou Mr. Holmes -- O seu casaco de corte e tecido franceses deu-me a pista de suas andanças. As botas sujas de lama indicam que mora no interior, onde as estradas não têm pavimento. Sua pele bronzeada revela o seu estilo de vida ao ar livre. Esta pequena mancha de molho de tomate na lapela atesta seu gosto pela culinária italiana. Os fios amarelados no centro do seu bigode demonstram seu hábito de fumar charutos. Seus olhos constantemente apertados revelam a miopia. A ausência de aliança na sua mão esquerda diz-me que não é casado e, finalmente, a qualidade das suas roupas e calçados fala-me sobre sua condição financeira.

-- Estou deveras impressionado, Sir... -- declara o interlocutor -- Mas devo rebater um a um dos tópicos que o senhor mencionou.

E, diante da expressão de cética surpresa estampada no rosto sério de Mr. Holmes, continua:

-- Um amigo francês presenteou-me com este paletó que não mais lhe servia. A bota, sujei-a de lama ao visitar as obras de reforma dos jardins da casa de meu empregador. Minha pele bronzeada se deve ao fato de que, aproveitando a chegada deste verão, reconstruí com minhas próprias mãos o telhado de minha humilde casa. A mancha na lapela foi causada pelos respingos do tomate que caiu da caixa que o verdureiro carregava sobre sua cabeça, ao passar por mim pela rua. Os fios amarelados no meu bigode, de fato, devem-se ao meu hábito do tabagismo, mas prefiro os cigarros feitos à mão aos charutos. Meus olhos constantemente apertados devem-se à fotofobia e não à miopia. A ausência de aliança em meu dedo anular explica-se pelo fato de que, tendo perdido muito peso devido a uma doença crônica, precisei mandá-la ao joalheiro para que fizesse o necessário ajuste. E a qualidade do meu vestuário explica-se pela circunstância de que minha prima predileta, tendo enviuvado recentemente de um abastado negociante, presenteou-me com as roupas e botas de seu falecido marido.

Elementar, meu caro Holmes.


*

Este texto é só uma brincadeira despretensiosa, porque na verdade sou fã do Conan Doyle e do seu impagável Sherlock Holmes. :)

Um comentário:

  1. kkkkkkkkkk, boa, madrinha!!!
    Como diria minha vó: o defunto era outro.
    Beijitos

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