quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Pobreza de espírito x livre pensar



Desconheço a interpretação dos estudiosos da Bíblia sobre o termo "pobre de espírito".
Mas eu tenho uma, pessoal, não-particular e perfeitamente transferível.

Pra mim, pobre de espírito é a pessoa que não busca o crescimento espiritual, simples assim.
E ainda sob o meu modesto ponto de vista, o crescimento espiritual se dá quando exercemos o livre pensar.

O livre pensador não se atém a uma só filosofia, religião ou doutrina que seja -- ele escolhe e acolhe aquilo que lhe fala ao espírito, não importa a origem.
O livre pensador não deixa os neurônios ociosos. Está sempre buscando respostas e acaba descobrindo novas perguntas. E nunca se dá por satisfeito -- quanto mais aprende, mais sente acentuada a própria ignorância sobre tudo o que o cerca. Por isso mesmo, julga menos do que observa e aprende mais do que ensina.
O livre pensador amplia seus horizontes, porque toma a devida distância dos fatos e, assim, enxerga mais longe. E, enxergando mais longe, insere o fato analisado num contexto mais amplo, obtendo mais e melhores parâmetros que lhe sugiram significados.
O livre pensador aceita as diferenças -- portanto, não aceita e nem impõe padrões inflexíveis; em outras palavras, o livre pensador não se julga dono da verdade, da virtude e da razão, porque sabe que estas não têm dono, são relativas e transitórias.
Por fim, o livre pensador sabe que o seu maior bem, seu maior patrimônio, não está contido na matéria, mas no espírito.

Abre parêntese. Entendo por espírito a nossa capacidade de sentir, discernir, compreender e apreender o que a razão ou os sentidos recolhem. Fecha parêntese.

Então, voltando ao início, penso que "pobreza de espírito" é o ódio pelo diferente, a inveja pelo afortunado, a indiferença pelo sofrimento alheio, a deslealdade, a injustiça, a desonestidade, a mentira, o rancor, a perversidade, a crueldade, o instinto destrutivo, a maledicência, a calúnia, a vingança, a mesquinharia, entre tantas outras qualidades negativas como estas.

Se o pobre de espírito soubesse que, mantendo-se nessa miséria existencial, sofre muito mais do que o seu suposto "inimigo" -- e, ao contrário, o livre pensador, ainda que se angustie no caminho do crescimento e sofra algumas dores inevitáveis, ao alcançar cada uma das muitas metas a que se propõe experimenta o incomparável e insubstituível êxtase prazeroso da descoberta --, então veria que está perdendo um tempo precioso e desperdiçando uma energia fundamental.

Lanço aqui a campanha -- libertemos o pensamento e enriqueçamos o espírito.

É tempo de jogar fora o lixo inútil.
E, então, vivamos e deixemos viver...

Um comentário:

  1. Iaci, meu queixo caiu... que lucidez e que argumentação imbatível. Não tinha lido este e adorei! Se eu tivesse um chapéu, tiraria agora pra você. Beijos!

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